A necessidade de encontrar e manter comunidades no jornalismo

Este texto foi publicado originalmente na minha newsletter, "Esse negócio de jornalismo". Assine-a aqui: https://tinyletter.com/diogoarod
Uma das palavras que ando falando sem parar nas minhas aulas de Mercado Multimídia e Empreendedorismo (na FESP) é comunidade. Aprendi a importância dessa ideia a partir do momento em que criei o Me Explica e vi muitas pessoas desconhecidas vindo falar comigo.
Na CUNY, aprendi mais a esse respeito com o “social journalism”, um método de engajamento com comunidades que prioriza a escuta para servir a essas pessoas fazendo jornalismo. De acordo com Jeff Jarvis, um dos diretores da escola de jornalismo da CUNY, o jornalismo:
“Deve deixar de se ver primariamente como produtor de conteúdo para as massas e se tornar mais explicitamente um serviço para indivíduos e comunidades. O conteúdo preenche as coisas; o serviço realiza as coisas. Prestar um serviço com relevância e valor requer conhecer aqueles a quem você serve, e fazer isso requer construir relacionamentos com essas pessoas. Portanto, devemos aprender habilidades de relacionamento.”
A palavra “comunidade” vem se tornando um chavão em várias da comunicação, mas ela é valiosa. É por meio desse contato direto com os leitores que podemos entender melhor como servi-los usando nossas habilidades. Repórteres sabem bem disso: eles já têm de cultivar relações com grupos sociais e políticos específicos para ter seus furos.
Chegou a hora de incorporarmos isso como uma estratégia editorial e de engajamento. Uma proximidade maior nos permite trocar com quem nos acompanha, saber que questões são importantes para eles, onde podemos melhorar. Um estudo feito pelo Reuters Institute, da Universidade de Oxford, analisou três veículos exemplares na relação com suas comunidades: Rappler (Filipinas), Daily Maverick (África do Sul) e The Quint (Índia).
Gostei bastante dessa “roda do engajamento”, que eu nunca tinha visto em lugar nenhum. É um bom mapa de possíveis ações e modelos de contato com a comunidade.

Vale a pena ler o relatório todo, mas alguns pontos chamaram minha atenção. De acordo com os autores, as três empresas “três evoluíram em seu envolvimento com o público-alvo para trabalhar e se concentrar em relacionamentos mais profundos, mais estreitos e mais fortes com esses públicos, priorizando conversas com curadoria, encontros físicos e investimentos em nichos no lugar do alcance vazio”.
Para iniciativas menores como a minha e outras que já existem e ainda surgirão, acredito que o foco em que nos lê e quer conversar conosco é um ótimo caminho para atingir a sustentabilidade. Precisamos, afinal, de pluralidade e de uma dependência menor da grande mídia. A comunidade, na minha opinião, é uma aposta mais do que interessante.