O jornalismo deve abraçar os memes

Diogo A. Rodriguez
3 min readJun 19, 2019

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Passei os últimos 4 meses estudando estratégias de negócios e de conteúdo para o Me Explica. Meu desejo era o de chegar às pessoas onde elas estão, conforme explico melhor neste post aqui. O jornalismo precisa abrir mão de certos pressupostos clássicos e ir aonde as pessoas estão. Hoje, um desses lugares é o mundo das redes sociais.

É nelas que se dá uma parte importante do debate político, gostemos ou não. Embora seja o local perfeito para que se espalhe mentiras, é também um terreno onde importantes questões são levantadas e identidades políticas criadas. Por exemplo, o movimento #MeuPrimeiroAssedio.

“Os memes podem funcionar como o primeiro degrau para o debate qualificado, e, desse modo, estamos tratando de um dispositivo de letramento político importante, e que não deve ser menosprezado pelos movimentos sociais. Há quem encare os memes apenas como uma ferramenta de mistificação das massas, um gênero alienante. Quem enxerga o fenômeno desse modo está perdendo muitas camadas de significado.”

Viktor Chagas, coordenador do Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração (coLAB), da Universidade Federal Fluminense (UFF)

Nós, jornalistas, precisamos entender e viver nesse território, identificando as oportunidades e limitações do meio. Vejam bem, não defendo que larguemos tudo e nos mudemos definitivamente para as redes sociais. O que precisamos é diversificar nossa estratégia e pensar em como o jornalismo pode ser modulado e adaptado para ser feito e espalhado em diversos formatos.

Eu pessoalmente acredito que o nosso futuro não está em um único lugar, seja em termos de conteúdo ou negócios. Será necessário desenvolver diversas estratégias concomitantes. E precisaremos medir a eficácia delas o tempo todo. Essa é a estratégia de grandes marcas e empresas (ao menos as que têm sucesso).

Outro passo importante será perdermos o preconceito que temos em relação a certos formatos, como os memes, videos curtos, gifs, áudios, tweets e etc. Vejo esse movimento em alguns veículos brasileiros, mas de maneira superficial. Tudo ainda depende muito do editorial tradicional. Estratégias de mídias sociais precisam de independência editorial, sempre vinculada a métricas claras para medir o impacto.

Por isso, no Me Explica, tenho investido bastante em experimentar com formatos nativos das redes e em existir nas plataformas respeitando suas características. No Instagram, produzo conteúdo visual e rápido, uma vez que é assim que as pessoas consomem o conteúdo ali. No WhatsApp, converso individualmente com quem está nas minhas listas de transmissão, nem que seja apenas para mandar um emoticon.

Grande mídia pode criar conteúdos nativos para cada plataforma

Grandes grupos de mídia, eu entendo, têm uma dificuldade maior para fazer esse movimento. São grandes, lidam com milhares ou milhões de pessoas ao mesmo tempo e têm estruturas hierárquicas rígidas. Mas creio que mesmo a imprensa tradicional pode tirar proveito nas novas possibilidades. A exemplo do que certos veículos fizeram, como o New York Times, equipes supervisionadas por gerentes de produtos podem ter espaço para criar novas formas de distribuir e criar jornalismo sem ter de esperar pelo editorial tradicional.

As empresas de jornalismo precisam entender que elas criam produtos jornalísticos, não apenas jornais revistas ou programas de TV. Compartilhamos o método e a ética jornalística. Mas cada “ramo” tem uma especialização que pode ser útil nesse novo cenário de fragmentação da distribuição. Acontece até de veículos que têm tradição num campo descobrirem que podem se aventurar em outro (como fez o NYT com o podcast The Daily).

O quanto antes percebermos isso, mais rapidamente aumentaremos nossa capacidade de servir aos nossos concidadãos e levar informação de qualidade onde eles estiverem.

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Diogo A. Rodriguez
Diogo A. Rodriguez

Written by Diogo A. Rodriguez

jornalista, criador do meexplica.com, especialista em #tecnologia #ciencia #politica #democracia

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