Por que é tão difícil prever o futuro do jornalismo?

Já estamos todos cansados de ouvir a pergunta: qual é o futuro do jornalismo? Existe um modelo que “salvará” os veículos? Qual será?
Jeff Jarvis, diretor do Tow-Knight Center for Entrepreneurial Journalism, onde estudei, tenta responder a essas peguntas há décadas. Sem sucesso, ele mesmo admite, em entrevista ao El País:
Posso ser um farsante. Não defendo que eu tenha razão.
Durante as aulas, que aconteciam às segundas-feiras de manhã, Jeff fazia questão de mostrar todas as suas previsões fracassadas. Mas dizia a nós: “Vocês é quem vão salvar o jornalismo”. Mais uma previsão fadada? Talvez. Mais importante do que achar “a” solução, creio, é incentivar os jornalistas a entender como funcionam os negócios. Ainda da entrevista ao El País:
A evidência é clara: precisamos mudar. Há muitas oportunidades. Enquanto enxergarmos a Internet como uma ameaça, ficaremos incomodados. Se olharmos a Internet como a base para mudar nossa relação com o público, há base para algo. Na verdade, acho que não fui radical o bastante.
Foi justamente essa inquietudo que ele conseguiu incentivar na turma. Bom, só posso falar por mim e digo que, embora não concorde completamente com seu otimismo em relação à tecnologia, encontrei um ponto importante em comum com Jarvis: a ideia de que o jornalismo precisa servir a uma comunidade. E uma das maiores necessidades atuais é a conversa, o debate civilizado, a reconstrução de pontes:
Precisamos repensar para que serve o jornalismo em uma sociedade, começar a enfrentar os problemas e aprender com outras disciplinas. Se estamos muito polarizados e as comunidades não se entendem entre si, é preciso construir pontes.
Na minha modesta opinião, Jeff Jarvis faz previsões com duas finalidades principais: (1) aumentar os limites da imaginação dos jornalistas, para que saiamos do nosso arroz com feijão e aventemos outros futuros; (2) para provocar a discussão, especialmente gerar argumentos que contrariem suas previsões; o mero exercício intelectual de discordar e tentar desmontar o que Jarvis diz fortalece o debate e o conhecimento a respeito da nossa área.
Nas várias conversas que tive com ele a respeito do Me Explica (plataforma de jornalismo que criei), Jeff sempre me incentivou a pensar grande, a valorizar as habilidades que desenvolvi com meu projeto ao longo de seis anos. Para ele, arriscar é sempre mais produtivo do que ficar parado esperando que uma resposta caia do céu. Jeff é o tipo de pensador que, embora não pareça tão acadêmico como os comentaristas de plantão que temos (especialmente no Brasil), consegue colocar o pensamento (e a ação) em movimento.
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Leia a entrevista completa de Jeff Jarvis ao El País (em português): https://brasil-elpais-com.cdn.ampproject.org/c/s/brasil.elpais.com/brasil/2019/07/12/cultura/1562885709_674849.amp.html